quinta-feira, 26 de junho de 2008

cheiro de pinho...





Tirou lentamente o sutiã. Gostava de olhar o seu corpo no espelho, em especial os seus seios. Pequenos, quase irreais, mas firmes. Entrou no chuveiro, tão logo fechou a cortina de plástico, que a cercou como uma muralha de brinquedo. O cheiro de pinho, que subia do sabonete, ultrapassava a muralha de plástico e se misturava ao ar que pouco circulava. Ela se ensaboou com uma esponja macia, que passeava devagar por cada parte do seu corpo, como se estivesse desenhando-o. Brincava com aquele objeto que gerava um prazer quase imperceptivel.


O banho: "parêntese da seca e vestida existência". Assim nua, libertava-se do tempo, voltava a ser apenas o corpo eterno, oferecido ao sabão de pinho e à água quente do chuveiro. Permaneceu alí por um bom tempo. Sabia que no momento em saísse do banho, colocando a mão para além daquela muralha e pegando a toalha, na qual enrolaria todo o seu corpo, voltaria ao seu tédio de mulher vestida, "como se cada peça de roupa a fosse prendendo à história, devolvendo-lhe cada ano de vida, cada recordação, grudando-lhe o futuro no rosto como uma máscara de barro".